A Visita do Ministro do Interior a Ansião
Em Ansião, o Ministro do Interior, Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior, foi recebido em ambiente festivo, tendo presidido à sessão que decorreu no Salão Nobre da Câmara, e que contou com a presença de todos os Presidentes de Câmara do Distrito de Leiria. Depois do almoço seguiu para a freguesia de Chão de Couce, onde procedeu à inauguração da luz eléctrica nos chamados “Três Lugares”: Amieira, Cabecinho e Serra do Mouro.
Os jornais, como de costume, fizeram desenvolvida reportagem do acontecimento. Seguimos O Mensageiro para nos relatar o que se passou em Ansião:
O Mensageiro, de 15 de Agosto de 1963, escreve na página 3, a este propósito o seguinte: «(...) A visita do ex.mo sr. Ministro do Interior dr. Santos Júnior começou pelo concelho de Ansião, onde entrou e era aguardado no limite do Concelho de Soure e do Distrito de Coimbra, nos limites das Freguesias do Alvorge e de Degracias.
Aí aguardavam o ilustre Ministro os srs. Governador Civil do Distrito de Leiria, Deputados, dr. Faveiro, Director Geral das Contribuições e Impostos, Presidente da Junta Geral, Director das Estradas, Director da Urbanização, vários presidentes, mesmo todos os presidentes das Câmaras do Distrito de Leiria, todas as Autoridades do concelho de Ansião e acompanhando estas as pessoas de mais elevada categoria do concelho, nomeadamente das freguesias e vilas do Alvorge, Avelar, Chão de Couce e S. Tiago da Guarda.
Mais de 50 automóveis formaram longo cortejo, que pela poeirenta e em parte bem esburacada estrada, se dirigiu para Ansião.
À entrada da Vila, sobre a Ponte, aguardavam o cortejo a Corporação dos Bombeiros, a Filarmónica local e grande multidão organizando-se novo cortejo, que a pé, entre os acordes da música, vivas entusiásticos, palmas, flores, estralejar de foguetes e morteiros se dirigiu para os Paços do Concelho, com as ruas engalanadas.
Constituída a mesa da sessão de boas vindas, presidida pelo sr. dr. Santos Júnior, vendo-se na sala muitas senhoras da Vila e do Concelho, usou em primeiro lugar da palavra o sr. Presidente da Câmara de Ansião, prof. Albino Simões que saúda o Sr. Ministro do Interior e diz da honra que o concelho de Ansião sente em receber a sua visita, saúda o Chefe de Estado e o sr. Presidente do Conselho e o sr. Governador Civil, não sendo esta a primeira vez que esta autoridade visita o concelho de Ansião.
Terminados os seus cumprimentos em seu nome e de todo o concelho o sr. Presidente da Câmara passa a expor as maiores necessidades do Concelho e são: Águas! A vila e o concelho não têm suficiente abastecimento de água; é necessário concluir a estrada desde as Cavadas a Alvaiázere e Freixianda; há necessidade de novos edifícios escolares; é necessária a construção dum hospital regional, a reparação de estradas municipais e a construção de novas estradas.
O povo de Ansião é grato e sente bem o que lhe fazem. Por último refere-se ao momento que Portugal atravessa e diz como o concelho está presente em Angola, onde alguns dos seus filhos já verteram o seu sangue pela Pátria.
Seguiu-se o ilustre Ministro do Interior. Agradece a manifestação que lhe foi feita e as palavras que lhe foram dirigidas e diz como se sente bem junto do povo, que na hora presente sabe sentir o que se faz a Portugal e dá o exemplo do trabalho. Apela para a união de todos e a terminar diz: Vamos ao trabalho.
Apresentados cumprimentos seguiu-se uma sessão de trabalhos em que os dignos presidentes das Câmaras apresentaram assuntos de seus concelhos.
Terminada a sessão seguiu-se o almoço no final do qual foram erguidos alguns brindes, seguindo logo o ilustre Ministro, Governador Civil, Presidente da Câmara e outras individualidades para a freguesia de Chão de Couce (...)».
No Verão do ano seguinte, foi a vez da visita do Ministro da Economia, Luís Maria Teixeira Pinto.
A Visita do Ministro da Economia por ocasião das Festas de Agosto
Em Agosto de 1964, quando, pelo terceiro ano consecutivo, se realizaram as Grandes Festas de Ansião, em benefício da sua Corporação de Bombeiros, fez parte do respectivo Programa, no seu dia mais importante – o dia 9 de Agosto - a “Sessão de Abertura” de um ciclo de estudos sobre o tema “As Serras de Ansião num plano de valorização regional”. Presidiu a essa Sessão, o Ministro da Economia, Luís Maria Teixeira Pinto. As duas conferências que, então, foram proferidas tiveram como autores, os Drs. Vítor Faveiro e Salvador Dias Arnaut. O primeiro, mestre em ciência fiscal, ilustre Director Geral das Contribuições e Impostos, natural de Ansião e acérrimo defensor da sua terra e das suas gentes, explicou a razão de ser deste ciclo de estudos, como ponto de partida para a valorização integral do homem das Serras de Ansião, dissertou sobre as características qualificativas desta sub-região e fez um esboço do plano para a efectiva valorização integral da sua população. O segundo, Professor de História da Universidade de Coimbra, e natural da região (Concelho de Penela), falou da História de Ansião. Ambas as conferências foram publicadas, primeiro no Jornal Serras de Ansião (em 1966), e, mais tarde, em opúsculos ou livros.
Da alargada reportagem que O Mensageiro, de 20 de Agosto de 1964, publicou sobre as Festas de Ansião, transcrevemos, apenas a parte que tem como subtítulo “A Recepção ao sr. Ministro”:
«Terminaram no dia 11, com um baile que durou toda a noite, as festas de Ansião, a favor da Corporação dos Bombeiros Voluntários.
Tiveram um êxito completo, sendo de salientar a recepção no dia 9 a sua Ex.ª o Ministro da Economia, no lugar do Pontão, onde era aguardado pelo sr. Governador Civil do Distrito, sr. Olímpio Duarte Alves, sr. presidente da Câmara Municipal professor Albino Simões, sr. Cónego Abílio Costa em representação de sua Ex.ª Rev.ma o sr. Bispo Conde de Coimbra, senhores Coronel Pascoal e dr. Bissaia Barreto, presidentes das Juntas Gerais dos Distritos de Leiria e Coimbra, dr. Moura Relvas, presidente da Câmara Municipal de Coimbra e todos os presidentes das Câmaras Municipais do Distrito de Leiria e de alguns concelhos vizinhos de outros distritos. Presentes também muitos directores distritais dos diversos serviços públicos e os oradores que inauguraram o ciclo de conferências de valorização da Região, srs. doutor Vítor Faveiro, a alma deste grande movimento de valorização regional e o sr. professor Salvador Dias Arnaut. Entre a assistência viam-se muitas distintas senhoras de quase todo o país».
Ainda em 1964, Ansião engalanou-se para receber o 1.º magistrado da Nação, o Almirante Américo Tomás. Esse seria o primeiro Presidente da República a visitar Ansião. Foi no dia 24 de Outubro de 1964.
O Almirante Américo Tomás é recebido nos Paços do Concelho de Ansião
Após o almoço, o Chefe de Estado deixa Figueiró dos Vinhos (onde inaugurara uma aldeia reconstruída após um pavoroso incêndio), pela estrada para Ansião. No Pontão, uma primeira manifestação festiva saúda-o. A recepção na Vila de Ansião, vem descrita em O Mensageiro, de 29 de Outubro de 1964, página 2, do seguinte modo:
«São 17,30 horas quando o cortejo chega ao Moinho das Moitas, bairro de Ansião.
Cordas enfeitadas, bandeiras formam docel. No largo em frente do edifício aglomera-se grande multidão. No átrio dos Paços do Concelho vêem-se as Autoridades do Concelho e as principais pessoas de todas as freguesias.
Saúda o Chefe de Estado o sr. Presidente da Câmara. Palmas, vivas, foguetes, música».
No meio da “multidão” a que se refere o correspondente de O Mensageiro, estavam as crianças da Escola Primária, empunhando pequenas bandeiras de Portugal, e entre elas quem escreve estas linhas – com os meus 7 anos de idade, frequentava a 1.ª classe, do Professor Albino Simões, precisamente o Presidente da Câmara.
Essa viagem presidencial, foi lembrada pelo Serras de Ansião (n.º 1, de 24.8.1978), no tempo em que se publicou, integrado nas duas últimas páginas de O Eco, de Pombal, e quando o velho Almirante teve autorização do regime democrático pós-25 de Abril de regressar do exílio.
O autor do artigo, recorda um interessante momento dessa visita:
«(...) O diálogo travado entre o Sr. Presidente e o Sr. Director-Geral dos Impostos e que foi o seguinte:
Presidente – Então Sr. Director-Geral na sua terra não se pagam impostos?
Director-Geral – Pelo contrário Sr. Presidente, pagam mais para dar o exemplo!»
No tempo da presidência do Prof. Albino Simões, a electricidade foi chegando a mais lugares do concelho: Tojeira (22.6.1960), Sarzedela e Lagoas (22.1.1961), Lisboinha e Pousaflores, Sobreira e Várzea, Santiago da Guarda (15.7.1962), Amieira, Cabecinho e Serra do Mouro (22.7.1963); e, entre outros, aos lugares de Casal de S. Brás, Casal das Sousas, Casal Viegas, Alqueidão, Constantina, Bate Água e Areosa (9.2.1964).
Uma vez concluídas as obras de electrificação, as respectivas inaugurações eram sempre motivo de festa, a que não faltava o elemento popular agradecido pelo importante melhoramento recebido, as autoridades locais (políticas e religiosas), e distritais, normalmente o Governador Civil.
Recordando a última inauguração da luz eléctrica
da presidência de Albino Simões
A última inauguração da luz eléctrica, do mandato presidencial do Professor Albino Simões, foi no dia 9 de Fevereiro de 1964, dia em que os lugares de Casal de S. Brás, Casal das Sousas e Casal Viegas (todos da freguesia de Ansião), Alqueidão (da freguesia de Chão de Couce), Constantina, Bate Água e Areosa (todos da freguesia de Ansião) passaram a usufruir da energia eléctrica. A festa, nesse dia, ocorreu em dois lugares distintos: primeiro, no Casal de S. Brás, a seguir, na Constantina, junto aos respectivos postos de transformação, que, depois de benzidos pelo Arcipreste de Ansião, iriam distribuir a “milagrosa” energia pelos novos utentes.
A festa da inauguração da energia eléctrica em diversos lugares da freguesia de Ansião terminou com discursos aqui – na Capela de Nossa Senhora da Paz da Constantina
O jornal de Figueiró dos Vinhos, O Norte do Distrito (de 25.2.1964, p. 4), trouxe a notícia, donde transcrevemos o excerto que se segue:
«(...) Estavam presentes o Governador Civil de Leiria, e o Sr. Coronel Pascoal, Presidente da Junta Distrital, que eram aguardados no lugar da Lapa, limite do concelho, pelo Presidente da Câmara, Sr. Albino Simões, e pelo Dr. Vítor Faveiro, Director-Geral das Contribuições e Impostos, além de numerosas outras individualidades, da melhor representação do concelho.
Seguiram em longa caravana de automóveis até ao dito lugar de Casal de S. Brás, onde Sua Ex.ª o Sr. Governador Civil cortou a fita simbólica da inauguração.
Usaram aqui da palavra o Sr. Presidente da Câmara e o Sr. Governador Civil, perante elevado número de pessoas, que aplaudiram, calorosamente, as palavras dos ilustres oradores.
Suas Ex.as seguiram na mesma longa caravana para o lugar da Constantina, onde também eram aguardados por grande multidão dos lugares limítrofes, a qual, conjuntamente com o rancho folclórico da Constantina, ovacionaram, entusiasticamente, a presença e o acto das autoridades administrativas.
No alpendre da Capela de Nossa Senhora da Paz, deste último lugar, discursaram em primeiro lugar o Sr. Aníbal Firmino, aqui residente, o qual num bem redigido trecho agradeceu em seu nome e no das populações beneficiadas o melhoramento acabado de inaugurar e há muito desejado. Em seguida, falou o Sr. Dr. Vítor Faveiro que, com o calor do seu profundo amor às terras da sua naturalidade e num fino recorte literário de bom português, falou das tradições cristãs que fazem a história das aldeias das “Serras de Ansião”.
Depois, o Sr. Presidente da Câmara de improviso e com palavras de quem sente por convicção e com arreigado amor a um ideal de perfeita justiça e de sãos princípios, agradeceu as presenças de Sua Ex.ª o Sr. Governador Civil e do Sr. Coronel Pascoal, os quais não se poupam a sacrifícios para estarem sempre presentes nas horas de alegria vividas pela gente humilde. Ao povo dirigiu palavras de regozijo e de louvor, pela maneira carinhosa e reconhecida como haviam recebido as entidades representativas da administração municipal e distrital.
Finalmente levantou-se o Sr. Governador Civil para se congratular com tudo o que acabava de presenciar, exortando o povo à unidade e à firmeza de princípios e convidando-os a darem pleno apoio à luta que Portugal sustenta na defesa do que legitimamente lhe pertence. Todos os oradores foram ardorosamente aplaudidos».